quinta-feira, dezembro 08, 2005

NOITE GLORIOSA


LIÇÃO TÁCTICA E DE CORAGEM FAZ BENFICA ENTRAR NA HISTÓRIA NUMA NOITE MÁGICA

Benfica-Manchester United, 2-1: E foi pela porta grande

Há noites que ficam na história do futebol. A de ontem no Estádio da Luz entra nesse lote. Para merecida glória do Benfica e de uma equipa de heróis

Dia 7 de Dezembro de 2005. Esta é uma data que os benfiquistas (e não só) não vão esquecer. Mas se por acaso a memória os atraiçoar, então bastará recordar que esse foi o dia do célebre Benfica-Manchester United, o jogo que serviu para ajustar contas com a história mas que acima de tudo fez renascer o grande Benfica europeu.Foi uma noite única, com uma atmosfera fantástica, que lançou o Benfica para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões e atirou o Manchester United para fora da competição.Só a vitória interessava e ela foi conseguida.
Era preciso um super-Benfica e ele apareceu. Mas não bastava ter alma enorme, era fundamental ter cabeça. E o Benfica teve tudo isso, no tempo certo e na dose exacta. Obra de Koeman e mérito dos jogadores.
Surpresa
Sem Simão, Miccoli, Karagounis e Manuel Fernandes, Koeman não tinha muitas opções para criar alguma surpresa ao seu adversário. Mas ainda assim surpreendeu-o. E não só a ele.Geovanni, que o treinador acreditava poder fazer o jogo da sua vida, fê-lo e ainda por cima correndo por terrenos que ninguém se atreveria a adivinhar. Foi ele o ponta-de-lança, enquanto Nuno Gomes jogou uns metros mais atrás e Nuno Assis assumiu o papel de extremo-esquerdo.O Benfica tinha assim um “minorca” no meio das torres do Manchester mas como a intenção não era ganhar bolas de cabeça mas sim ser rápido e directo, Geovanni conseguiu ser elemento constantemente perturbador.
Golpe
A abordagem do Benfica ao jogo privilegiava uma posição de expectativa que essencialmente evitava correr riscos desnecessários.Era necessário controlar as emoções mas era difícil desacelerar um jogo que logo nos primeiros minutos ganhou irresistível balanço com um cabeceamento de Anderson ao lado (3’), um remate de Ronaldo (5’) e um... golo de Scholes (6’)! Nuno Assis esqueceu-se de acompanhar Neville, Beto não foi atrás de Scholes e o Benfica via acontecer-lhe o pior.O golpe foi duríssimo mas ao contrário do que se poderia supor não foi mortal. Pelo contrário. O Benfica não se desuniu, manteve-se rigoroso e logo subiu no terreno, apertou a pressão, reduziu as linhas, ganhou alento e mereceu o prémio. O incrível Geovanni iniciou o lance do golo que ele concluiu com um cabeceamento espectacular.
Lançado
O Benfica estava lançado para uma noite de glória. Cristiano Ronaldo irritou-se com os assobios e não conseguiu emprestar o seu talento ao jogo do Manchester. Pelo contrário, o virtuosismo de Nélson e a inspiração de Geovanni foram do tamanho do coração da águia.Que faltava então para o Benfica ir mais além? Talvez o brilhozinho da estrela que normalmente acompanha aqueles que se portam como campeões. Foi o caso. Beto teve a percepção do seu momento e a ajudá-lo teve a sorte que fez a bola bater em Scholes e desviar-se do braço gigante de Van der Sar.
Coragem
Os 45’ que se seguiram foram de enorme sofrimento pois o balanço do Manchester assustou, mas foram também uma lição de coragem. Os jogadores entregaram-se a cada lance como quem se entrega a uma causa. E assim os minutos foram passando, com um enorme sofrimento, mas com a equipa a manter-se organizada, solidária e sempre com um olho no contra-ataque. O Benfica terá então perdido as melhores oportunidades (João Pereira, 75’ e Geovanni, 79’) mas não perdeu a mais importante: a que o fez entrar na história.
Árbitro
Kyros Vassaras (2). Em caso de dúvida decidiu sempre a favor do Manchester, casos de um fora-de-jogo mal tirado a Geovanni e um lance de golo iminente que o grego transformou em livre contra o Benfica.

Autor: ANTÓNIO MAGALHÃES
Data: Quinta-Feira, 8 de Dezembro de 2005 01:30:00
INFORMAÇÃO COMPLETA NA EDIÇÃO IMPRESSA DE Record

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